Novas Moléculas Orgânicas Descobertas em Dados Antigos da Sonda Cassini
A lua gelada Encélado, um dos corpos celestes mais fascinantes do nosso Sistema Solar, continua a nos surpreender! Pesquisadores estão desvendando segredos que estavam guardados há mais de uma década nos dados da sonda Cassini. Você se lembra da Cassini? Essa incrível nave espacial encerrou sua jornada em Saturno em 2017, após 13 anos de exploração, mas seu legado científico ainda rende frutos. Recentemente, um estudo publicado na Nature Astronomy, conduzido por cientistas da Freie Universität Berlin e da Universidade de Stuttgart, revelou a presença de moléculas orgânicas inéditas em Encélado. Essas moléculas são como peças de um quebra-cabeça cósmico, podendo ser precursoras de biomoléculas ainda mais complexas.
Mas como essas moléculas orgânicas permaneceram escondidas por tanto tempo?
Para entender, precisamos voltar ao momento em que a Cassini as coletou. Durante sua missão, a sonda realizou 23 sobrevoos por Encélado. A maioria deles ocorreu a uma velocidade de cerca de 12 km/s. No entanto, um sobrevoo em particular, conhecido como E5, foi muito mais rápido, atingindo 17,7 km/s – quase 50% a mais! Além disso, o E5 coletou amostras de grãos de gelo “mais jovens”, ejetados da lua apenas alguns minutos antes, enquanto a maioria dos outros dados vinha de grãos com dias ou até décadas de idade. Essa diferença de velocidade e idade das amostras foi crucial.
Os dados foram coletados pelo Analisador de Poeira Cósmica (CDA), um tipo de espectrômetro de massa. Imagine o CDA como um detetive químico espacial: ele foi projetado para descobrir a composição de poeira e gelo no sistema de Saturno. A técnica utilizada, chamada ionização por impacto, funciona assim: quando uma partícula de poeira ou gelo atinge um alvo de ródio dentro do instrumento, ela é instantaneamente vaporizada. O CDA, então, analisa o espectro de Tempo de Voo para identificar os íons presentes, permitindo aos cientistas rastrear as espécies de íons até as moléculas originais presas no gelo e na poeira. É como identificar os ingredientes de um bolo pela análise dos vapores que ele solta ao ser assado!
Em velocidades mais lentas, como na maioria dos sobrevoos por Enceladus, íons de aglomerados de água podiam interferir na análise, mascarando outras moléculas orgânicas. Mas no sobrevoo E5, com sua velocidade superior, essa interferência foi minimizada, tornando o sinal das moléculas orgânicas liberadas muito mais claro. Para confirmar que velocidades mais altas geram sinais distintos, os pesquisadores compararam os dados da Cassini com resultados de espectrometria de massa por ionização de elétrons obtidos na Terra. Com isso, eles não só confirmaram a presença de moléculas orgânicas já encontradas no anel E de Saturno, como os “aromáticos” – que são blocos construtores comuns de moléculas orgânicas – mas também fizeram uma descoberta ainda mais empolgante.
Eles encontraram indícios de moléculas orgânicas mais avançadas! 

Embora fosse difícil identificar exatamente quais compostos estavam presentes, o estudo os descreve como ésteres e/ou alcenos, além de éteres e/ou etilas. Por que isso é tão importante? Porque essas moléculas mais complexas são fundamentais na busca por vida em luas geladas. Elas sugerem que os ventos hidrotermais de Encélado, que são como chaminés submarinas que expelem água quente e minerais, são capazes de produzir moléculas mais elaboradas do que se pensava inicialmente. É como descobrir que uma pequena fonte de água no deserto não só tem água, mas também nutrientes complexos!
Essa é uma notícia fantástica para a astrobiologia e para os planejadores de missões espaciais! Ela aumenta a possibilidade de que processos químicos orgânicos ainda mais complexos estejam ocorrendo perto desses ventos hidrotermais. Na Terra, ambientes análogos a esses ventos são famosos por abrigar ecossistemas inteiros que dependem exclusivamente de energia química, e não da luz solar. Alguns teóricos até acreditam que a origem da vida na Terra pode ter começado nesses locais.
Com este novo estudo, a ideia de que os ventos hidrotermais de Encélado podem criar biomoléculas ainda mais complexas ganha força. Não é um salto tão grande imaginar que eles poderiam dar o próximo passo na criação de lipídios e aminoácidos, que são os blocos fundamentais da vida. Infelizmente, ainda não sabemos quando outra sonda será enviada a Encélado para investigar mais a fundo. No entanto, há uma missão planejada para visitar Europa, outra lua gelada com potenciais ventos hidrotermais: a Europa Clipper. Ela usará um instrumento similar ao CDA, chamado SUrface Dust Analyzer (SUDA). Então, por volta de 2040, poderemos ter mais dados para descobrir se Encélado é o único lugar com esses “motores” de criação de moléculas orgânicas no nosso Sistema Solar.
Exploração espacial continua a nos surpreender, e cada nova descoberta nos aproxima um pouco mais de entender nosso lugar no universo. Quem sabe o que mais a Cassini ainda nos revelará?




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