NASA Testa Tecnologias para Marte em Desertos dos Estados Unidos

NASA Testa Tecnologias para Marte em Desertos dos Estados Unidos

A NASA, conhecida por sua abordagem meticulosa no desenvolvimento de tecnologias espaciais, continua testando equipamentos destinados a Marte em alguns dos ambientes mais desafiadores da Terra. Ao longo deste ano, diversos projetos de exploração marciana passaram por testes rigorosos em desertos americanos, desde o Vale da Morte até as dunas de areia branca do Novo México. Esses testes representam uma etapa fundamental para garantir que as futuras missões ao Planeta Vermelho sejam bem-sucedidas.

Quando se trata de engenharia espacial, existem duas filosofias distintas: aqueles que lançam produtos rapidamente e corrigem problemas conforme surgem, e aqueles que testam exaustivamente antes de qualquer lançamento. Felizmente, os engenheiros da NASA pertencem ao segundo grupo. Afinal, seria desastroso se as sondas enviadas pelo sistema solar falhassem por algo que poderia ter sido facilmente testado aqui na Terra. O desafio está em encontrar ambientes terrestres que repliquem as condições dos destinos espaciais. Para Marte, isso significa utilizar desertos com dunas de areia e formações rochosas que simulem a superfície marciana.

Testes no Vale da Morte: Aprimorando Algoritmos de Voo

O Parque Nacional do Vale da Morte, na Califórnia, é um dos locais mais inóspitos dos Estados Unidos e do mundo. A NASA utiliza esse ambiente extremo para testes desde a década de 1970, quando serviu como campo de provas para o módulo Viking. Essa tradição continuou com testes mais recentes do sistema de pouso da Perseverance, que foi transportado sobre o parque em um helicóptero.

Este ano, as equipes retornaram ao Vale da Morte sob temperaturas escaldantes de 45°C para atualizar o software de drones que causou problemas ao Ingenuity no final de sua vida operacional. O helicóptero marciano utilizava uma câmera voltada para o solo para monitorar a superfície do planeta durante o voo, determinando parcialmente sua velocidade. Após mais de 70 voos, o terreno sobre o qual o helicóptero se movia tornou-se cada vez mais semelhante às dunas sem características distintivas típicas dos desertos terrestres. Essa uniformidade confundiu o algoritmo de voo, eventualmente causando a falha do Ingenuity em seu 72º voo. Aprimorar o algoritmo para funcionar sobre terrenos sem características marcantes é uma meta essencial para o próximo helicóptero marciano, e testá-lo nas dunas áridas do Vale da Morte permite que os engenheiros validem suas melhorias com dados reais de campo, em vez de depender exclusivamente de simulações.

Dumont Dunes: Diversidade de Terreno para Algoritmos Robustos

Além do Vale da Morte, os engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA escolheram outro local no Deserto de Mojave para testes complementares. As Dumont Dunes são uma vasta extensão de areia bege que reproduz efetivamente terrenos mais variados, garantindo que o algoritmo de navegação possa lidar com diferentes tipos de superfície sem confusão. Essa diversidade de ambientes de teste é crucial para desenvolver sistemas que sejam verdadeiramente adaptáveis às condições imprevisíveis de Marte.

LASSIE-M: O Robô Quadrúpede que Explora Terrenos Marcianos

Outra expedição ao deserto foi realizada para testar um sistema baseado em solo. O robô LASSIE-M (Legged Autonomous Surface Science in Analogue Environments for Mars) possui um formato de “cachorro” que se tornou familiar em muitos projetos de prototipagem robótica. Ele foi projetado para explorar terrenos rochosos e arenosos, utilizando a física experimentada por suas pernas para estimar as propriedades físicas da superfície. Como esse robô específico está sendo desenvolvido por pesquisadores do Centro Espacial Johnson em Houston, a equipe optou por viajar para um local desértico mais próximo: o Parque Nacional White Sands, no Novo México.

White Sands, também famoso como campo de testes de mísseis, tem sido um local favorito da NASA há décadas. Neste caso, o LASSIE-M percorreu diversos terrenos no parque enquanto testava sua capacidade de permanecer estável e monitorar as condições da superfície abaixo dele. Como o propósito dessa plataforma é fazer reconhecimento à frente de rovers ou exploradores humanos que a acompanham, garantir que a superfície seja segura para seus companheiros é um de seus principais objetivos de missão.

MERF: O Planador Elétrico que Amplia o Alcance da Exploração

No entanto, nem todos os testes precisam ser realizados em desertos. Outro programa de exploração marciana conseguiu fazer testes este ano em um local muito mais ameno: um campo na Virgínia. Pesquisadores do Centro de Pesquisa Langley da NASA, próximo à costa leste do país, têm desenvolvido o MERF (Mars Electric Reusable Flyer), uma máquina voadora autônoma que utiliza uma asa para planar distâncias muito maiores do que o Ingenuity era capaz de alcançar.

O MERF também possui hélices de decolagem e pouso vertical que permitem decolar e pairar de forma similar ao Ingenuity. Ele também tem uma câmera voltada para baixo, como seu famoso predecessor, e precisa superar as mesmas dificuldades no reconhecimento de características da superfície. Mas esse não foi o foco do voo na Virgínia. O teste foi projetado para avaliar a aerodinâmica de um protótipo em escala reduzida e garantir que os materiais leves com os quais o planador é construído sejam capazes de suportar as forças de decolagem e pouso.

O Futuro da Exploração Marciana

O comunicado de imprensa da NASA serve como um lembrete de quanta pesquisa relacionada a Marte está em andamento na agência, apesar dos desafios recentes enfrentados. Ainda há muitos cientistas e engenheiros trabalhando para explorar o Planeta Vermelho, independentemente da oposição que possam enfrentar aqui na Terra. Esses testes em ambientes análogos terrestres são fundamentais para garantir que, quando essas tecnologias finalmente chegarem a Marte, estejam prontas para enfrentar as condições extremas e imprevisíveis do planeta vizinho.

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