Depois de Quase 100 Anos, a Ciência Pode Ter Finalmente “Visto” a Matéria Escura

Depois de Quase 100 Anos, a Ciência Pode Ter Finalmente “Visto” a Matéria Escura

Em 1930, o astrônomo suíço Fritz Zwicky fez uma observação intrigante: as galáxias estavam se movendo muito mais rápido do que a massa visível delas permitiria. Era como se houvesse uma cola invisível, um andaime cósmico, segurando tudo junto. Ele inferiu a existência de algo que hoje chamamos de Matéria Escura. Quase um século depois, o Telescópio Espacial de Raios Gama Fermi da NASA pode ter fornecido a primeira evidência direta dessa substância misteriosa, permitindo que a matéria invisível seja, pela primeira vez, “vista”.

A Natureza Elusiva da Matéria Escura

A Matéria Escura tem sido um dos maiores mistérios da física moderna. Até agora, só conseguimos observá-la indiretamente, através de seus efeitos gravitacionais sobre a matéria comum. Pense nela como um vento invisível que você não pode ver, mas pode sentir a força dele empurrando um barco. A matéria escura não absorve, reflete ou emite luz, o que a torna invisível aos nossos telescópios tradicionais.
Mas, se ela não interage com a luz, como podemos encontrá-la?
Muitos cientistas acreditam que a Matéria Escura é composta por partículas chamadas WIMPs (sigla em inglês para Partículas Massivas de Interação Fraca). Para entender o que são WIMPs, imagine que a matéria comum (você, eu, as estrelas) é feita de peças de Lego que se encaixam facilmente. As WIMPs seriam peças de um material diferente, que mal interagem com as peças de Lego. Elas são mais pesadas que um próton (uma das peças do átomo), mas interagem muito pouco com a matéria comum.
A chave para a detecção está na Aniquilação de Partículas. A teoria prevê que, quando duas WIMPs colidem, elas se destroem mutuamente, liberando energia na forma de outras partículas, incluindo os Raios Gama. É como se, ao se chocarem, essas partículas invisíveis deixassem um rastro de luz de altíssima energia.
Por anos, os pesquisadores miraram regiões com alta concentração de Matéria Escura, como o centro da Via Láctea, na esperança de capturar esses Raios Gama específicos.

Observações Inovadoras do Telescópio Fermi

Utilizando os dados mais recentes do Telescópio Fermi, o Professor Tomonori Totani, da Universidade de Tóquio, acredita ter finalmente detectado os Raios Gama previstos pela Aniquilação de Partículas de Matéria Escura.
O que ele encontrou?
Totani detectou Raios Gama com uma energia colossal de 20 gigaelétron-volts (20 bilhões de elétron-volts), formando uma estrutura semelhante a um halo que se estende em direção ao centro da Via Láctea. O espectro de energia (a “assinatura” da energia) dessa emissão corresponde perfeitamente ao que é esperado da Aniquilação de Partículas de WIMPs com uma massa cerca de 500 vezes maior que a de um próton.
Mais importante, essa emissão de Raios Gama não pode ser facilmente explicada por fenômenos astronômicos mais comuns, como pulsares ou buracos negros. Isso torna os dados uma indicação fortíssima de que estamos, de fato, observando a Matéria Escura.
“Se isso estiver correto, seria a primeira vez que a humanidade ‘viu’ a Matéria Escura. E isso sugere que a Matéria Escura é uma nova partícula não incluída no atual modelo padrão da física de partículas. Isso significa um grande desenvolvimento na astronomia e na física”, afirma Totani.

Próximos Passos e a Busca por Confirmação

Embora o Professor Totani esteja confiante, na ciência, uma descoberta tão monumental exige verificação independente. Seus resultados precisam ser confirmados por outros pesquisadores. Além disso, a comunidade científica buscará provas adicionais de que essa radiação em forma de halo é realmente o resultado da Aniquilação de Partículas de Matéria Escura e não de alguma outra fonte.
Uma forma de fortalecer essa evidência seria detectar os mesmos Raios Gama de energia em outros locais com alta concentração de Matéria Escura, como as galáxias anãs que orbitam a Via Láctea.
“Isso pode ser alcançado assim que mais dados forem acumulados e, se for o caso, forneceria uma evidência ainda mais forte de que os Raios Gama se originam da Matéria Escura“, conclui Totani.
A caçada de quase um século pela Matéria Escura pode estar chegando ao fim. Se confirmada, essa descoberta não apenas resolve um dos maiores enigmas do universo, mas também abre as portas para uma nova física, reescrevendo o nosso entendimento sobre o que realmente compõe o cosmos.

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