Encontraram o Planeta Nove do Sistema Solar?

Encontraram o Planeta Nove do Sistema Solar?

Dados antigos podem indicar um novo mundo além de Netuno — mas talvez não seja aquele que os cientistas esperavam.

Imagine só: os livros de ciência talvez precisem de uma atualização de novo! Nosso sistema solar encolheu de nove para oito planetas quando Plutão foi “rebaixado” em 2006 pela União Astronômica Internacional. Mas, quem sabe, pode haver outro mundo escondido lá nos confins, depois de Netuno – e parece que os astrônomos podem ter acabado de achá-lo.

Em 2016, surgiu a ideia de que nosso quintal cósmico poderia abrigar um discreto nono planeta. A suspeita veio de um agrupamento estranho nas órbitas de objetos distantes no Cinturão de Kuiper. Pense no Cinturão de Kuiper como um vasto anel de corpos gelados que fica além da órbita de Netuno, uma espécie de “restos” da formação do sistema solar. A teoria era que um mundo invisível, com uma massa de cinco a dez vezes a da Terra, estaria puxando gravitacionalmente esses objetos, como um ímã cósmico. Até agora, porém, nenhuma prova direta da existência desse “Planeta Nove” apareceu.

Será que é ele?

Um estudo recente, no entanto, aponta um possível candidato. Uma equipe diferente de astrônomos comparou dados de 1983 do Satélite Astronômico Infravermelho (IRAS) – um telescópio espacial que observava o universo em luz infravermelha – com dados de 2006 da missão japonesa AKARI, outro observatório espacial infravermelho. Eles procuravam por fontes de luz muito fracas que tivessem se movido um pouquinho ao longo desses 23 anos. Esse movimento lento é exatamente o que se esperaria de um planeta massivo e muito distante.

“Observar no infravermelho distante é uma boa estratégia porque um planeta longínquo seria quase invisível na luz normal, mas poderia emitir calor detectável no infravermelho”, explica Terry Long Phan, estudante de pós-graduação em astronomia na Universidade Nacional Tsing Hua em Taiwan, que liderou o estudo. A equipe começou com 2 milhões de objetos e foi eliminando: tiraram os que estavam parados e os pares que se moveram demais ou de menos para serem o planeta teorizado. No fim, sobraram apenas 13 pares possíveis. “A maioria acabou sendo alarme falso, geralmente por causa de muito ruído de fundo [interferências na imagem] ou fontes paradas que não foram detectadas, mas estavam lá”, diz Phan. “Contudo, identificamos um candidato promissor que bate com as propriedades esperadas do Planeta Nove.”

Mas calma, o mistério da busca pelo nono planeta ainda não acabou. Tomo Goto, professor na mesma universidade e coautor do estudo, alerta: “As duas detecções do IRAS e do AKARI sozinhas não bastam para determinar a órbita do nosso candidato.” Para entender a órbita – o caminho que um objeto faz ao redor de outro, como a Terra ao redor do Sol – são necessárias mais observações. A equipe espera conseguir mais dados sobre o movimento do objeto usando a Câmera de Energia Escura (Dark Energy Camera), um instrumento poderoso instalado em um telescópio no Chile. “Só com uma órbita bem definida podemos confirmar se nosso candidato é mesmo o Planeta Nove”, afirma Goto. As evidências sobre o Planeta Nove ainda são indiretas.

Provavelmente não…

Mike Brown, astrônomo de Caltech que originalmente propôs a existência do Planeta Nove junto com seu colega Konstantin Batygin, tem suas dúvidas. Ele diz que o movimento do candidato sugere uma órbita muito inclinada e levemente retrógrada. O que isso significa? Bem, imagine que a maioria dos planetas orbita o Sol mais ou menos no mesmo plano, como bolas de gude rolando numa mesa. Uma órbita inclinada estaria muito fora desse plano, quase perpendicular. E retrógrada significa que ele estaria girando na direção oposta à da maioria dos outros planetas. Com uma órbita dessas, esse possível planeta não conseguiria explicar aquele agrupamento estranho dos objetos do Cinturão de Kuiper – as anomalias orbitais Kuiper – que foi justamente o que levou à previsão inicial do Planeta Nove.

“Seja real ou não, é 100% NÃO o Planeta Nove”, diz Brown enfaticamente. “O Planeta Nove é uma previsão baseada em efeitos gravitacionais que inferimos na região do Cinturão de Kuiper, e este objeto, mesmo que exista, não causaria esses efeitos. Então, se for real, não é o Planeta Nove”, e, na verdade, “provavelmente até refuta a existência do Planeta Nove.”

Então, o que mais poderia ser esse sinal detectado na detecção infravermelha de astronomia? Brown especula que pode ser “ruído” nos dados (como a estática na TV ou rádio) ou um transiente astrofísico. Pense em um transiente como um evento cósmico que brilha intensamente por um tempo e depois desaparece, como uma supernova distante ou outro fenômeno energético.

Seja este novo candidato o Planeta Nove ou não, o mistério pode não durar muito mais. A pesquisa Legacy Survey of Space and Time (LSST), que será realizada pelo futuro Observatório Vera C. Rubin – um telescópio gigante sendo construído no Chile –, vai revolucionar nossa capacidade de detectar objetos distantes e lentos no sistema solar exterior. A pesquisa LSST promete mapear o céu com detalhes sem precedentes.

“Há uma chance muito boa de que essa pesquisa o encontre e, mesmo que não, reforce as evidências de que ele existe”, diz Brown.

A busca é surpreendentemente difícil, ainda mais se pensarmos que já encontramos mais de 5.800 planetas ao redor de outras estrelas (os exoplanetas).

“Pessoalmente, acho inaceitável que nem sequer entendamos completamente nosso próprio sistema solar, enquanto existem 100 bilhões de sistemas planetários só na nossa Via Láctea, e 100 bilhões de galáxias como a nossa no universo”, desabafa Phan. “Acredito que, antes de tentarmos entender estrelas, galáxias ou o universo, precisamos primeiro entender nossa própria casa: o sistema solar.”

Por enquanto, os astrônomos continuarão procurando por pistas escondidas nos confins escuros do nosso sistema solar. Para alguns, a questão não é *se* encontrarão o Planeta Nove, mas *quando*. Afinal, como diz Brown, “O sistema solar não faz sentido sem ele.”

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