Estação Espacial Russa: Rússia Planeja Reciclar Módulos da ISS em Nova Estação Orbital

Estação Espacial Russa: Rússia Planeja Reciclar Módulos da ISS em Nova Estação Orbital

O Fim de uma Era e a Nova Corrida Espacial

Com a aposentadoria da Estação Espacial Internacional (ISS) programada para 2030, uma nova era na exploração espacial está prestes a começar. A ISS, um símbolo de cooperação global por mais de duas décadas, dará lugar a uma nova geração de postos avançados em órbita. Países e empresas privadas já estão na prancheta, desenhando o futuro da humanidade no espaço. A China planeja expandir sua estação Tiangong, a Índia projeta a Bharatiya Antariksh Station, e gigantes comerciais como Blue Origin e Axiom Space também estão na disputa.

Nesse cenário competitivo, a agência espacial russa, Roscosmos, anunciou um plano audacioso e controverso para sua própria sucessora: a Estação Espacial Russa (ROS). A grande surpresa não é a construção de uma nova estação, mas como ela será feita. O plano envolve uma forma de “reciclagem espacial”: desacoplar e reutilizar os módulos russos que hoje fazem parte da ISS. É uma estratégia que mistura engenhosidade, necessidade econômica e um alto grau de risco.

ROS: Reciclando o Passado para Construir o Futuro?

O plano da Roscosmos é, ao final da vida útil da ISS, separar seu segmento — composto por módulos icônicos como o Zarya (o primeiro a ser lançado) e o Zvezda — para formar o núcleo da nova Estação Espacial Russa. A ideia é que esses componentes veteranos sirvam de fundação para uma estrutura totalmente nova, que seria complementada por módulos mais modernos ao longo do tempo. É como desmontar uma casa antiga para usar suas melhores vigas e tijolos na construção de uma nova.

Essa decisão representa uma mudança significativa nos planos russos. Originalmente, a ROS seria construída do zero. No entanto, a realidade geopolítica e econômica, marcada por sanções internacionais e recursos limitados devido à guerra na Ucrânia, forçou a Roscosmos a buscar uma solução mais pragmática. A reciclagem dos módulos da ISS, embora complexa, é vista como o caminho mais viável para manter a presença russa em órbita baixa da Terra sem interrupções.

Uma Órbita Estratégica

Além da reciclagem, outro ponto crucial do plano é a órbita da futura estação. A ROS será posicionada em uma inclinação de 51,6 graus, a mesma da ISS. A escolha, segundo oficiais russos, é geopolítica. Essa órbita permite que os lançamentos de naves e suprimentos sejam feitos a partir dos novos cosmódromos em território russo, como Plesetsk e Vostochny. Isso reduz a dependência histórica do Cosmódromo de Baikonur, localizado no Cazaquistão, uma questão cada vez mais sensível para a soberania espacial do país.

Inicialmente, considerou-se uma órbita polar de 96 graus, que permitiria a observação de todo o território russo e a realização de experimentos únicos sobre o polo magnético norte. Contudo, a decisão de manter a inclinação da ISS prevaleceu, o que também abre portas para uma possível cooperação futura com a estação espacial indiana, que considera uma órbita semelhante.

Os Riscos da Reciclagem: Módulos Velhos e Contaminados

A proposta de reutilizar os módulos da ISS não foi recebida sem críticas severas, inclusive dentro da própria Rússia. A principal preocupação é a idade e o estado de conservação desses componentes. Módulos como o Zarya e o Zvezda estão no espaço há quase três décadas, muito além de sua vida útil projetada de 15 anos. Eles já apresentam sinais de fadiga estrutural, com microfissuras que causam vazamentos de ar e exigem manutenção constante dos cosmonautas.

O problema vai além do desgaste físico. Anos de presença humana em um ambiente fechado criaram um desafio biológico. O próprio diretor do Instituto de Problemas Biomédicos da Academia Russa de Ciências, Oleg Orlov — o mesmo que anunciou o novo plano —, havia alertado em 2022 sobre a proliferação de bactérias e fungos nos módulos. Em amostras recentes, mais de 65% continham microorganismos acima dos limites de segurança, alguns capazes de causar reações alérgicas e doenças respiratórias.

Essencialmente, ao reciclar seus módulos, a Rússia herdaria todos os problemas atuais da ISS: uma estrutura envelhecida, biologicamente contaminada e que demanda reparos contínuos. Isso levanta uma questão fundamental: a economia de recursos compensa o risco de construir uma nova estação sobre uma fundação comprovadamente problemática?

Uma Aposta de Alto Risco

A decisão da Roscosmos de reciclar seus módulos da ISS para criar a Estação Espacial Russa é uma jogada complexa, impulsionada tanto pela necessidade quanto pela ambição. Diante de um orçamento apertado e do isolamento internacional, a Rússia busca uma maneira de não ficar para trás na nova corrida espacial. A ROS, mesmo que construída com peças “recicladas”, representa a esperança de manter seu status como uma potência espacial.

O sucesso do projeto dependerá da capacidade dos engenheiros russos de mitigar os riscos técnicos e biológicos de se trabalhar com hardware tão antigo. Se bem-sucedida, a ROS pode se tornar um exemplo de sustentabilidade e engenhosidade no espaço. Se falhar, pode se transformar em um lembrete caro dos desafios de se construir o futuro sobre as relíquias do passado.

Perguntas frequentes

O que é a Estação Espacial Russa (ROS)?
A ROS é a futura estação espacial que a Rússia planeja construir para suceder sua participação na Estação Espacial Internacional (ISS) após 2030. O plano mais recente envolve reutilizar os módulos russos da ISS como base para a nova estação.

Por que a Rússia quer reciclar partes da ISS?
Principalmente por razões econômicas e geopolíticas. Construir uma estação do zero é extremamente caro. Reutilizar os módulos existentes é uma forma mais rápida e barata de garantir que a Rússia mantenha uma presença contínua no espaço, especialmente diante das sanções e recursos limitados.

É seguro reutilizar módulos tão antigos?
Essa é a maior preocupação. Os módulos têm quase 30 anos e já apresentam problemas de desgaste, como vazamentos de ar, além de contaminação por bactérias e fungos. Especialistas questionam se os riscos de segurança e os custos de manutenção não superarão os benefícios da reciclagem.

E não se esqueça, mantenha sempre seus olhos no céu!

Referências

https://www.nasa.gov/faqs-the-international-space-station-transition-plan/

NASA Selects International Space Station US Deorbit Vehicle


https://arstechnica.com/space/2025/12/russia-is-about-to-do-the-most-russia-thing-ever-with-its-next-space-station/
https://www.russianspaceweb.com/ros.html
https://en.wikipedia.org/wiki/Russian_Orbital_Service_Station

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