Satélites privados detectam emissões de metano de instalações de petróleo, gás e carvão em todo o mundo

Satélites privados detectam emissões de metano de instalações de petróleo, gás e carvão em todo o mundo

Olhos no céu para vigiar a Terra: como satélites privados caçam emissões de metano

Quando pensamos em aquecimento global, o dióxido de carbono (CO2) quase sempre rouba a cena. Ele é, de fato, o principal vilão dessa história. No entanto, há outro personagem importante que muitas vezes fica nos bastidores: o metano (CH4), o segundo maior contribuinte para o aquecimento do nosso planeta causado por atividades humanas.

Grande parte dessas emissões de metano vem do setor de energia, vazando de fontes concentradas como torres de queima de gás, minas de carvão e poços de petróleo. Para combater esse problema, primeiro precisamos saber exatamente de onde o gás está vindo. E é aqui que a tecnologia espacial entra em cena de uma forma surpreendente, com satélites privados ajudando a apontar os culpados.

Uma nova geração de satélites, operada por empresas como a canadense GHGSat, está fazendo exatamente isso. Eles funcionam como detetives em órbita, combinando uma visão global com a capacidade de focar em áreas pequenas, do tamanho de um campo de futebol. Pela primeira vez, temos um mapa global das emissões de metano que nos mostra as fontes individuais, quase em tempo real.

O que são esses satélites e como eles funcionam?

Imagine um satélite que, em vez de tirar fotos comuns da Terra, é equipado com um sensor especial que consegue “enxergar” a assinatura química do metano na atmosfera. Esse gás é invisível a olho nu, mas não para a tecnologia. Esses satélites medem a luz solar que atravessa a atmosfera e é refletida de volta para o espaço. Como o metano absorve uma parte específica dessa luz, os sensores conseguem calcular sua concentração.

Essa tecnologia permite identificar o que os cientistas chamam de plumas de metano, que são como nuvens ou rastros do gás sendo liberados por uma fonte específica no solo. É uma técnica muito mais precisa do que os métodos antigos, que ou estimavam as emissões com base na atividade industrial (inventários bottom-up) ou mediam a concentração geral de gases na atmosfera sem identificar a fonte exata (medições top-down).

Graças à constelação de satélites da GHGSat, que já conta com 14 deles em órbita, os pesquisadores conseguiram analisar dados de 2023 e mapear as emissões de 3.114 instalações de petróleo, gás e carvão em todo o mundo. O resultado? Um total de quase 9 milhões de toneladas de metano sendo liberadas por ano apenas por essas fontes.

Quem são os maiores emissores de metano?

Os dados dos satélites revelaram um ranking claro dos países com as maiores emissões de metano no setor de energia. No que diz respeito a petróleo e gás, os cinco primeiros da lista são Turcomenistão, Estados Unidos, Rússia, México e Cazaquistão. Já quando o assunto é carvão, a China e a Rússia se destacam como os maiores emissores.

O mais interessante é que, embora as estimativas gerais por país já fossem conhecidas, a precisão dos satélites mostrou que o problema é muito localizado. A emissão não acontece de forma uniforme em um país, mas sim em instalações específicas. Isso significa que os esforços para reduzir o vazamento de metano podem ser muito mais eficazes se forem direcionados para esses pontos críticos, em vez de políticas genéricas em nível nacional.

Diferenças entre os setores de carvão e petróleo

Outra descoberta importante foi a forma como cada setor libera metano. Os pesquisadores criaram uma métrica chamada persistência, que mede a frequência com que uma instalação é detectada emitindo o gás. As instalações de carvão, como minas subterrâneas, mostraram-se fontes muito persistentes, liberando metano em cerca de metade das vezes em que foram observadas pelos satélites.

Já as instalações de petróleo e gás se comportaram de maneira diferente. Suas emissões eram muito mais intermitentes, ou seja, aconteciam de forma esporádica, sendo detectadas em apenas 16% das observações. Essa variabilidade torna o monitoramento desse setor um desafio maior, pois um satélite pode passar por uma área e não detectar nada, mas um grande vazamento pode ocorrer logo depois. Isso reforça a necessidade de um monitoramento constante e frequente.

O futuro do monitoramento espacial de metano

Com o sucesso dessa abordagem, a tendência é que o céu ganhe cada vez mais desses vigilantes. A própria GHGSat continua expandindo sua frota de satélites para garantir uma cobertura ainda melhor e mais frequente do planeta. Isso permitirá não apenas detectar mais fontes de emissão, mas também monitorá-las de perto para garantir que as medidas de redução estejam funcionando.

Essa tecnologia representa uma nova era na luta contra as mudanças climáticas. Com dados precisos e acionáveis, governos e empresas não têm mais como ignorar o problema. Os satélites estão, literalmente, jogando luz sobre a poluição invisível, nos dando uma ferramenta poderosa para proteger nossa atmosfera.

Perguntas frequentes

O metano é realmente tão ruim quanto o CO2?
O metano é um gás de efeito estufa muito mais potente que o CO2, embora permaneça menos tempo na atmosfera. Em um período de 20 anos, seu potencial de aquecimento é mais de 80 vezes maior. Por isso, reduzir suas emissões pode trazer resultados mais rápidos no combate ao aquecimento global.

Por que usar satélites privados e não de agências como a NASA?
Agências espaciais governamentais, como a NASA e a ESA, também têm missões de monitoramento da Terra. No entanto, empresas privadas como a GHGSat se especializaram em construir constelações de satélites menores e mais focados, capazes de fornecer dados com alta resolução e frequência, complementando os esforços das agências públicas.

Esses dados podem realmente forçar os países a mudarem?
Sim. A transparência é uma ferramenta poderosa. Ao tornar públicos os dados sobre quem está emitindo e onde, aumenta-se a pressão sobre governos e empresas para que tomem medidas. Além disso, esses dados ajudam a criar regulamentações mais eficazes e a verificar se os compromissos de redução de emissões estão sendo cumpridos.

E não se esqueça, mantenha sempre seus olhos no céu!

Referências

https://www.science.org/doi/10.1126/science.adn2686
https://www.ghgsat.com/
https://www.nasa.gov/news-release/nasa-data-helps-quantify-methane-emissions-at-local-levels/
https://www.unep.org/news-and-stories/story/methane-emissions-are-driving-climate-change-heres-how-reduce-them

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