Um Plano para Visitar um Cometa Interstelar: A Missão que Espera no Espaço

Um Plano para Visitar um Cometa Interstelar: A Missão que Espera no Espaço

Em 2029, a Agência Espacial Europeia (ESA) tem um lançamento agendado que pode redefinir nossa exploração cósmica: a Missão Comet Interceptor. O plano é audacioso: em vez de mirar em um alvo conhecido, a sonda será lançada para esperar. Ela ficará estacionada no espaço, aguardando a chegada de um cometa de longo período ao nosso Sistema Solar interno para, então, partir em uma trajetória de encontro rápido. Esses cometas são cápsulas do tempo, materiais primordiais e inalterados que guardam segredos sobre como nosso próprio sistema planetário se formou.
Um novo artigo científico sugere que a arquitetura inovadora da Missão Comet Interceptor pode servir como um projeto para algo ainda mais empolgante: uma visita a um Objeto Interstelar (ISO), como o cometa 3I/ATLAS. O documento, intitulado “Intercepting Interstellar Objects”, propõe que essa abordagem é a única maneira realista de estudar de perto um visitante de outro sistema estelar.

O Que Torna Esta Missão Diferente?

A história da exploração de cometas é rica, com missões notáveis como a International Cometary Explorer (ICE) em 1985, a Stardust que trouxe amostras para a Terra em 2006, e a Rosetta da ESA, que orbitou o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. No entanto, a Missão Comet Interceptor se destaca por uma razão crucial: ela será lançada sem um alvo definido.
Já parou para pensar na dificuldade disso? Imagine que você é um bombeiro. Em vez de esperar o alarme tocar para começar a vestir o uniforme e ligar o caminhão, você já está na estrada, com o motor ligado, pronto para desviar para qualquer incêndio que surgir. É assim que a Comet Interceptor funcionará. Essa arquitetura de “esperar no espaço” é fundamental para interceptar um Cometa Interstelar. Por quê? Porque esses visitantes chegam ao nosso Sistema Solar sem aviso prévio e passam apenas alguns anos por aqui antes de desaparecerem para sempre. Não há tempo para planejar e construir uma missão do zero.
“A Comet Interceptor esperará no espaço até que um cometa de longo período adequado seja descoberto, permitindo uma resposta rápida para realizar um sobrevoo veloz de um objeto que estará no Sistema Solar interno por apenas alguns anos; uma versão aprimorada deste conceito poderia realisticamente fornecer a primeira investigação in situ de um visitante de outro sistema estelar.” — Os autores do artigo.

Por Que os ISOs São Tão Importantes?

O estudo de exoplanetas já nos mostrou que nosso Sistema Solar é, de certa forma, um ponto fora da curva. Por exemplo, os sub-Netunos, o tipo de exoplaneta mais comum na galáxia, não têm um representante aqui. As respostas para as diferenças entre nosso sistema e os demais podem estar nos ISOs.
Um Objeto Interstelar (ISO) é como uma “cápsula do tempo” de outro berçário estelar. Cometas e asteroides são os “tijolos” que sobraram do processo de Formação Planetária. Eles contêm material intocado, preservado no frio do espaço profundo. Visitar um Cometa Interstelar nos daria a oportunidade de comparar os blocos de construção do nosso Sistema Solar com os de um sistema totalmente diferente. Isso nos permitiria investigar as semelhanças e diferenças no processo de Formação Planetária em diferentes épocas e locais da galáxia.
Cientistas acreditam que, durante a Formação Planetária, um grande número de corpos gelados é ejetado de seus sistemas de origem. Essas migrações caóticas de planetas recém-formados agem como estilingues cósmicos, arremessando esses “tijolos” para o espaço interestelar. É por isso que a galáxia pode estar repleta de Cometas Interstelares como 2I/Borisov e 3I/ATLAS.

A Solução da “Espera no Espaço”

Propostas anteriores para perseguir ISOs conhecidos foram consideradas impraticáveis, exigindo manobras e sistemas de propulsão não testados. A solução, segundo os autores, é clara: qualquer tentativa realista de encontro com um Cometa Interstelar exige uma missão pronta, desenvolvida com antecedência, esperando no espaço, exatamente como a Comet Interceptor.
A missão da ESA foi projetada para ser relativamente barata e ser lançada junto com outra carga útil maior. Para uma missão a um Objeto Interstelar (ISO), a carga útil seria muito semelhante, mas com uma adição crucial: um espectrômetro de massa neutro.
O que é um espectrômetro de massa neutro? Pense nele como uma “balança molecular” extremamente sensível. Ele não pesa o cometa inteiro, mas sim as moléculas individuais que ele libera. Como a composição de um Cometa Interstelar pode ser muito diferente dos cometas do nosso Sistema Solar, este instrumento é vital para identificar os “ingredientes” exóticos que vieram de outra estrela.
Embora seja improvável que a Comet Interceptor de 2029 encontre um ISO por pura sorte, a missão serve como uma prova de conceito para a abordagem de “esperar no espaço”. Com observatórios como o Vera Rubin Observatory prestes a entrar em operação, a detecção de ISOs deve aumentar drasticamente.
É altamente improvável que a humanidade visite outro sistema estelar em um futuro próximo. Mas visitar um Cometa Interstelar que viajou de outra estrela até nós é o mais próximo que chegaremos de tocar em um mundo além do nosso Sistema Solar. O que aprenderemos com isso? A resposta está esperando no espaço.

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