Solar Orbiter: O Primeiro Olhar Íntimo no Coração Magnético do Sol
Você já parou para pensar que o Sol, essa estrela que nos aquece e ilumina, tem um ritmo de vida próprio, quase como um coração pulsante? Pois é, a atividade magnética solar segue um Ciclo de 11 Anos do Sol, um período em que sua polaridade se inverte completamente. Esse ciclo é a chave para entendermos fenômenos como as tempestades solares que podem afetar a Terra.
O Sol opera em um ritmo rigoroso, impulsionado por um complexo sistema de circulação de plasma. Imagine que o Campo Magnético do Sol é como uma gigantesca correia transportadora. Na superfície, o plasma (gás superaquecido e eletricamente carregado) flui do equador em direção aos Pólos Solares, levando consigo as linhas do campo magnético. No interior do Sol, esse plasma retorna ao equador, completando um ciclo enorme que abrange todo o hemisfério. Os cientistas chamam esse processo de Cinto Transportador Magnético Solar.
Apesar de ser um conceito fundamental, os detalhes desse “cinto transportador” ainda são um mistério, especialmente o que acontece nos pólos. De onde estamos, na Terra, nossa visão dessa região é sempre de raspão, o que torna quase impossível medir as propriedades exatas do campo magnético polar. A maioria das sondas espaciais enfrenta a mesma limitação.
É aí que entra a Sonda Solar Orbiter da Agência Espacial Europeia (ESA). Lançada em fevereiro de 2020, ela foi projetada para fazer o que nenhuma outra sonda fez antes: sair do plano em que os planetas orbitam o Sol. Em março deste ano, a sonda atingiu uma trajetória inclinada em 17 graus, oferecendo, pela primeira vez, uma visão privilegiada dos pólos solares.
Com essa nova perspectiva, pesquisadores liderados pelo Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar (MPS) analisaram dados de instrumentos de ponta da Solar Orbiter, como o Polarimetric and Helioseismic Imager (PHI) e o Extreme-Ultraviolet Imager (EUI). Esses dados permitiram mapear a direção dos fluxos de plasma e o campo magnético na superfície solar.
Os resultados trouxeram uma imagem mais clara da supergranulação solar no polo sul. O que é isso? Pense na superfície do Sol como uma sopa fervente. A supergranulação é o nome dado a células gigantes de plasma quente, cada uma com o dobro ou o triplo do tamanho da Terra, que cobrem densamente a superfície. O movimento horizontal desse plasma “lava” as linhas do campo magnético para as bordas dessas células, criando uma espécie de “teia” magnética.
A grande surpresa foi a velocidade da migração magnética. O campo magnético está se movendo em direção aos pólos a uma velocidade de 10 a 20 metros por segundo, em média. Isso é quase tão rápido quanto o movimento em latitudes mais baixas! Estudos anteriores, baseados em observações feitas do plano da eclíptica (o plano orbital da Terra), sugeriam que essa migração era muito mais lenta nas altas latitudes polares.
Para o Dr. Lakshmi Pradeep Chitta, primeiro autor da pesquisa, as supergranulações nos pólos agem como um “rastreador”, tornando visível pela primeira vez a componente polar da circulação global de 11 anos do Sol.
Mas a história não termina aqui. Ainda não sabemos se o Cinto Transportador Magnético Solar realmente não desacelera perto dos pólos, como se pensava. Os dados da Solar Orbiter são apenas um instantâneo de um ciclo solar inteiro. Serão necessárias mais observações, cobrindo períodos mais longos, para desvendarmos completamente o ritmo e o poder do coração magnético do nosso Sol.
O que isso significa para nós?
Entender o Campo Magnético do Sol é crucial para prever o clima espacial, que pode afetar satélites, redes de energia e comunicações na Terra. A Sonda Solar Orbiter está nos dando as ferramentas para fazer previsões mais precisas e nos preparar para os próximos picos de atividade solar.
Fique ligado em nosso blog para mais atualizações sobre as descobertas da Solar Orbiter!
Referências: [1]: # “L. P. Chitta et al, Supergranulation and Poleward Migration of the Magnetic Field at High Latitudes of the Sun, The Astrophysical Journal Letters (2025). DOI: 10.3847/2041-8213/ae10a3″




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